terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Eu maior: O que você está fazendo na vida?



Letícia Sabatella está entre os trinta entrevistados que tentam
responder: O que é a vida?
Domingo. Madruguei e fui para a Rodoviária do Tietê buscar minha irmã que voltava de viagem. O ônibus teve um atraso de duas horas, tempo em que fiquei sentada assistindo às pessoas e pensando em seus destinos. No rádio, pelo menos, os programas dominicais não são tão deprimentes.

Tiveram a bondade de reprisar uma entrevista  com os irmãos Fernando Schultz e Paulo Schultz, que assumem a direção e produção do documentário “Eu maior”, lançado no fim do ano passado, que sutilmente nos indaga: Qual o sentido da vida? O que é felicidade?

Ao assisti-lo, me levei para o centro de uma roda, cuja borda era formada por muitas de mim. Assim devem ter se sentido os trinta entrevistados que compõem o documentário. Entre eles, o inspirador Rubem Alves, a atriz Letícia Sabatella, Leonardo Boff, Marina Silva, e outros, conhecidos e improváveis.

A professora de vedanta, Glória Arieira, é esclarecedora ao falar dos percalços próprios da existência e da busca incessante pela felicidade.

“Do que eu estou sofrendo? Será que é porque eu não tenho determinadas coisas que as pessoas têm? Ou mesmo que eu tivesse, continuaria sofrendo? Discernir o problema para buscar a solução, é fundamental. Muitas vezes, buscamos a solução, sem pensar o problema.”

Além disso, muitas vezes, esticamos o sofrimento, disputando de quem é o pior flagelo. É como o escritor Gustave Flaubert nos advertia, a tristeza é um vício.

“As emoções em nós, são muito rápidas, são instantâneas, o resto é memória. E nós chamamos essa memória, principalmente de coisas desagradáveis”, afirma a serena Monja Coen.

A abertura do filme é belíssima. A fotografia é minuciosa e delicada, uma poesia. Pequenos retratos cotidianos, delicadas crônicas da eternidade. Mais do que um filme sobre a busca da felicidade e do autoconhecimento, um salto para dentro de si.

Flávio Gikovate, psiquiatra, e um dos entrevistados, concorda que “A vida não tem sentido nenhum, mas não é proibido dar-lhe algum”. A vida, quem sabe, talvez, um subir de degraus para lugar nenhum... O que é a vida? 


Eu maior, documentário completo:  




quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O que pensa alguém com “orgulho branco”?

Até John Lennon e Yoko Ono entraram na dança. 
Foi o que me perguntei ao me deparar com a página no Facebook, “Orgulho de Ser Branco”. Não satisfeita com a dúvida, fui olhar mais de perto como pensam, e devem agir, os quase 6 mil curtidores da “causa”.

Embora a descrição advirta: “Página destinada a todos que tenham orgulho e admiram essa raça. Não somos racistas, somos orgulhosos”, não é bem isso que se vê ao longo das postagens...

Num post, sugere-se que a “soma perfeita da vida” é um casal heterossexual. Mais adiante a foto de um negrinho sorridente: “Cotas sim! Porque eu não quero estudar”.

No ápice de seu mundo paralelo, o administrador da página cria sua própria lógica de diversidade. É simples, para mantê-la, se relacione somente com os de sua raça/cor, isto é, pretos com pretos e brancos com brancos. Cada um no seu quadrado.

Num momento descontraído e de recalque, pasmem, fiquei sabendo que feijoada é uma comida de origem europeia. Já ver que o samba também, deixo meu salve aos holandeses!

Em meio a tanta gente boa, aprendi, também, que se você renega o título de raça, é um burraldo e não sabe a “diferença entre elas”.

Em tempos idos, Hitler nos mostrou em que estrada esburacada dá a fé cega na ciência, utilizada para legitimar o genocídio na segunda guerra mundial, mas essa parte da história não interessa, vamos pular.  

O conceito de raça pura é tão absurdo quanto um trator de asas.

Entretanto, já ouço os gritos: “E por que os pretos têm orgulho negro?”. Oras, deve haver brancos que sofrem descriminação do tipo, você é claro, você é rico. Isso é bom? Definitivamente, não. Mas vejamos, os históricos de execuções pela polícia, de segregação da educação, de recusa dos direitos ao longo da história, com certeza não deve apontar para você, pessoa de bem e de boa aparência.

Se você é clarinho no Brasil, bingo, um problema a menos. Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert que o digam.

Sendo assim, como não resgatar dos sertões e favelas, a identidade, a cultura que submerge dos lugares mais inóspitos e impensáveis? 

Isto me faz lembrar do que ouvi certo dia: “Há preconceito contra o homem negro, há preconceito contra o nordestino, há preconceito contra o analfabeto, mas não há preconceito se um dos três for rico”.

Orgulho de ser branco não é descriminação, viu, mas por que diabos vocês insistem em sair das portarias e cozinhas, hein? 


Fiz uma seleção de posts, vejam só: 


Esses negros preguiçosos... 




Viu, imperfeito?



Impossível redigir legenda...




Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de fotografia, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas