Saraus em SP

Sarau Antene-se, a flor que nasce no asfalto



Antene-se acontece no Capão Redondo todo último
domingo do mês. Em julho, teve até número de pirofagia.
(foto: QP)

O bar do Jorge, também conhecido como Saldanha, é um bar vermelho. De uma das portas de entrada dá para ver o rosto de Bob Marley na parede, perto do balcão, uma chaleira e uma guitarra estão penduradas. Em uma parede à direita vemos peixes coloridos e uma estante cheia de livros. Nesse balaio de sensações é onde acontece o Sarau Antene-se.

O encontro de artes nasceu em março de 2011, de maneira despretensiosa, como uma cerveja num domingo à tarde.

Influenciado pelos saraus da região, um grupo de amigas que já frequentava o bar pensou em criar alguma atividade para aproveitar o espaço. Desde o início os objetivos eram claros: “Pensamos em fazer o sarau para melhoria do espaço e consequentemente da comunidade em que a gente vive”, explica Camila Costa, 22 anos, uma das organizadoras.

Cheias de entusiasmo, apresentaram o projeto ao Jorge, dono do bar, que de pronto aceitou a ideia, mas nem tudo é poesia, um ocorrido anos antes podia atrasar o andar da carruagem. “A galera ficava receosa de colar, porque em 2006, num bar próximo, ouve uma chacina. Aqui ficou conhecido como o pico dos caras barra pesada”, conta a estudante.

Mesmo com esse e outros contratempos, o sarau não esmoreceu, tomou corpo e despertou a curiosidade das pessoas, principalmente pela diversidade de intervenções artísticas; stand up, números de mágica, pirofagia, capoeira, e até crianças iniciando os batuques no maracatu.

O nome é fenício, mas Ahiran Romanato, 24 anos, é de Embu das Artes.
Desde muito novo ouvia “rap gringo”, e a influência dos rappers americanos acabou por suscitar no garoto, então com 14 anos, o interesse pelo beatbox, a arte de produzir sons ritmados com a boca.

Graças ao convite de uma amiga, colocou os pés pela primeira vez em um sarau e pode mostrar o seu trabalho. “A minha primeira impressão foi muito boa, a galera é receptiva e o microfone é aberto para qualquer um que queira expor a sua arte”, conta.

Mas nem só de adultos vive o sarau, crianças, pessoas de mais idade e cachorros tristes também passam por lá... Uma garotinha cor de jambo enrolada com seu pequeno cachecol lilás, livra-se da timidez segura o microfone e canta baixinho: “Sereia vai nadar, vai nadar, nada que vai ser bom...”.

Para mais informações acesse o perfil do Sarau Antene-se no Facebook





“Há pessoas que vão à igreja, eu vou ao sarau”, diz poeta do sarau Sobrenome Liberdade



O Sarau acontece toda primeira quinta-feira do mês a partir das 20h.
(foto: QP)
Sob os olhos de Alceu Valença, Jim Morrison e Janis Joplin, o sarau Sobrenome Liberdade abre os braços no Relicário Rock Bar, no Grajaú, extremo sul da cidade de São Paulo.
O sarau foi criado em setembro de 2012 e começou num lugar bem menor que um bar, uma folha de papel. “O Sobrenome Liberdade nasceu primeiramente como um fanzine distribuído em eventos culturais, depois se tornou em um sarau. Vimos que a palavra não dá conta de registrar tudo no papel”, conta Ni Brisant, baiano, poeta e idealizador do movimento.

Em sua 11º edição, o sarau acontece toda primeira quinta-feira do mês, e reúne pessoas de todos os cantos da cidade, com o mesmo objetivo, ouvir, recitar e talvez até mais, ser poesia. Para isso não precisa estar dentro do bar, dois janelões estratégicos permitem que as pessoas da calçada, sentadas ou de pé, participem do sarau.
Do lado de dentro, o microfone é como um rio de palavras que corre enquanto o sarau acontece. Palavras de amor, de ordem e crítica social. No palco, um garoto de jeans rasgado e black power se movimenta rapidamente e grita: “Fogo no sistema!”, muitos repetem junto. Aqui, provavelmente, ele não será um incendiário solitário.

Por ser “Sobrenome Liberdade”, o sarau traz ao palco não apenas a poesia, no banner pendurado dentro do bar, podemos ler: “Traga sua arte”. Foram o que fizeram três garotos que levaram para dentro do sarau, esquetes que abordam temas do cotidiano. Na encenação, eles falam, andam, choram e gritam no meio do público, até os mais falantes descansam a conversa e prestam atenção.
O estudante de jornalismo, Laio Rocha, 19 anos, depois de ter ouvido falar do sarau por meio de amigos e também pelo Facebook, resolveu conhecer pessoalmente. “Ele é um pouco diferente dos outros. Essa introdução das artes cênicas no sarau, a interação dos poetas com o público, é muito interessante. Foi o que mais gostei”, explica.

Para muitos, a distância pode ser empecilho para sair de casa numa noite fria de quinta-feira, mas não para Laudecir Silva, 40 anos. Morador do Centro da cidade, sempre que consegue uma folga na escola, não titubeia em se reunir com os amigos para ouvir e declamar poesia.
“Há pessoas que todos os dias, ou uma vez por semana, vão à igreja, eu vou ao sarau. Ele tem essa dimensão religiosa, espiritual. É mais que um evento, um ato cultural, é alimento para a alma”, confessa o professor de filosofia.

Em menos de um ano de existência, o Sarau Sobrenome Liberdade se concretizou como um espaço de expressão do cidadão comum. Onde crianças leem poesias, onde esquecer o poema no palco não é problema, onde as pessoas se abraçam sem receio.
“Não dependemos de nenhuma empresa, nenhum patrocínio, não mercantilizamos a arte. Tudo que temos fomos nós que construímos. Somos nós por nós mesmos”, de fala mansa, conclui Ni Brisant.

Para mais informações, acesse a página do Sobrenome Liberdade no Facebook.



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