O programa, que leva o nome do pastor, segue o estilo Talk show,
com direito a matérias, entrevistas e pregações. |
Desde que assumiu a Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara dos Deputados, o deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) não sai mais dos
noticiários. Quando você esfrega o olho lá estão as manchetes: Feliciano bebeu
um copo d’água, odeia atabaques e seus adeptos, deseja a volta da escravidão,
e, agora, gay na minha igreja não.
Nesta quarta-feira (16) foi aprovado o projeto de lei do
deputado Washington Reis (PMDB-RJ) que permite a organizações religiosas
expulsarem de seus templos pessoas que "violem seus valores, doutrinas,
crenças e liturgias".
Ou seja, o projeto quer evitar que os religiosos sejam
criminalizados caso se recusem a realizar casamentos homossexuais, batizados ou
a aceitar a presença deles em templos religiosos.
É mais do que obvio, pela denominação, que a premissa que
se tem dessa comissão é que trabalhe por uma sociedade mais justa e
igualitária, atendendo às necessidades das minorias, não segregando-as ainda
mais.
Mas é sabido, também, que são muitos os interesses dos
empresários-pastores na política, e aí você sabe, os pretos, os gays, os
pobres, o povo, fica meio esquecido.
Voltando ao projeto, é importante lembrar que as igrejas
protestantes têm por princípio, moral e tradição não conviver com práticas
homossexuais, que dirá casamentos. Os pastores sabem disso, os fiéis sabem
disso. Então qual a necessidade dessa lei?
Em matéria da Folha, Reis explica:
- Deve-se a devida atenção ao fato da prática homossexual
ser descrita em muitas doutrinas religiosas como uma conduta em desacordo com
suas crenças. Em razão disso, deve-se assistir a tais organizações religiosas o
direito de liberdade de manifestação.
Quem está fechando as portas das igrejas? Sequestrando
pastores e obreiros, quem tapou a boca dos “emissários de deus”?
Ninguém. Não há censura. Muito pelo contrário, as igrejas
crescem cada vez mais no Brasil, estão nos canais de TV e programas de rádio.
Há tantos empreendimentos que alguns até perdem a mão na administração, como o
Pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial, que pediu recentemente a seus fiéis
contribuição para pagar uma dívida de R$ 21 milhões.
Por essa e outras, não compreendo o argumento da
“liberdade de manifestação”. Entendo-o como legítimo a respeito de quem não
tem, de fato, espaço e oportunidade para se manifestar, os gays, os negros, as
mulheres. As minorias, ditas na comissão.
Mais uma vez, vemos esforços para criação de uma lei que
não beneficia ninguém. Nem a mim que escreve nem a você que lê, menos ainda
aquele mar de gente que frequenta os templos em busca de paz e salvação, mas
ajuda sim. Ajuda a um grupo de fundamentalistas religiosos que se embrenharam
na política, mas que vivem da igreja e fazem dela seu ganha pão, ganha
champagne, ganha carros, anéis de ouro...
Se levada a cabo, acredito que essa lei não irá afetar diretamente a vida dos homossexuais, mas contribui – e muito – para o aumento
da discriminação contra os gays, tanto por fomentar a já crescida intolerância
religiosa, quanto por legitimar atos preconceituosos com a justificativa da
religião.
Antes de colocar todos os pecados da política na conta do
Feliciano, lembrem-se que foi o PT que abriu mão da Comissão de Direitos
Humanos de olho na Comissão de Constituição e Justiça, que irá aprovar ou não o
texto do projeto de lei.
Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de fotografia, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas.
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