– Essas meninas não prestam! Com tão pouca idade já
querem dar para o meu filho!
Foi o que disse a mãe de um menino de 14 anos, ao
descobrir que ele e a namorada, da mesma idade e classe, transaram.
– Essas meninas se jogam... Come, mas usa camisinha. – Aconselhou.
É interessante pensar o modo como os pais, em especial as mães, e a sociedade
em geral, enxergam a sexualidade dos filhos, de acordo com o sexo do primogênito. Imagino se a mãe desse garoto o aconselharia da mesma
forma se ele fosse ela. Imaginem: “Esses meninos não valem nada, né, mas se é
só sexo, o que é que tem? Vai lá, dá mesmo, filhota!”
Mas o mais importante e inacreditável é como os filhos,
na visão de muitas mães, sempre são inocentes e incapacitados de fazer escolhas,
sendo sempre influenciados por “más companhias” ou por vadias de 14 anos.
Mesmo com a realidade revelando as mudanças no pensamento,
nos costumes, na cultura brasileira (mulher votando, mulher escolhendo o
próprio marido ou marida, mulher trabalhando, mulher com autonomia sobre o corpo), ainda
assim, conservamos com boa dose de formol esses e outros comportamentos do
século XX, como se o tempo não tivesse passado, como se o novo não tivesse chegado.
Mulheres à la Bolsonaro.
Mas, e aí, se essa mãe, que também é mulher, não acha
bacana que o marido seja infiel e coma geral, vizinhas, cunhadas, amigas, porque
vê algo de garboso em preparar seu filho para que seja um? Daria uma boa tese.
Esse menino do “come à vontade, só usa camisinha” tem potencial
para ser, amanhã, o marido que passa o rodo e diz que a mulher é “vagabunda”
porque aceitou carona do amigo do trabalho, o marido que reclama da louça suja,
mas que não tem coragem de lavar, o marido que acha normal bater em mulher...
Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de fotografia, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas.
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