Não desperto do sono, sou arrancado pelos pensamentos.
Mal abro os olhos, e quedo para trás, sinto o bombardeio de ideias furando a
minha cabeça, que mais parece uma engrenagem que nunca desliga.
Logo nos primeiros passos do dia, arquiteto o futuro.
Mentalizo e idealizo os cenários e personagens pelos quais passarei. Construo o
inconstruível. Penso ter o controle do que nunca será controlável: o amanhã.
Para as possíveis divergências e brigas que terei,
imagino o desfecho – o que irei dizer e rebater. Vivo me preparando para o nada.
Antecipo tudo para poder chegar pronto, mal sabendo que nunca estarei pronto.
Pois, sem sobreaviso, a vida nos coloca – quando não empurra –
nos beirais dos edifícios, nas pontes e viadutos, lá, na hora, (muitas vezes
sem recurso) decidimos o que fazer.
Estou a postos todos os dias para observar, analisar e
enquadrar o que acontece ao redor, de fora e de dentro.
Penso ter atirado, mas sou eu quem levou o tiro. Vivo
aflito pelo que fiz de mal aos outros, gestos que fiz, coisas que falei, quando
na verdade, não há mal algum. Somente a nossa costumeira estranheza humana.
Vivo dentro da minha cabeça, muito aquém da realidade.
Cheguei a um estado brutal de esgotamento, meu cérebro,
com todas as suas chaves e armadilhas, está definhando comigo. Quando demos a
ela o poder, é fervorosa a Autodestruição.
As lágrimas, autônomas, vão e vão, sem olhar para trás.
A angústia está com fome, estou só os ossos.
A angústia está com fome, estou só os ossos.
Preciso mudar algumas coisa de lugar. Tomar as rédeas.
Envergo mas não quebro.
Não quero quebrar.
Angelina Miranda é jornalista e escritora sem livros.
Ri alto, é fã de fotografia, cachorro, botecos e maus modos.
Dá uns pitacos pelo Feici e faz uns versos no Poesias Angelinas
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