sexta-feira, 5 de julho de 2013

“Há pessoas que vão à igreja, eu vou ao sarau”, diz poeta do sarau Sobrenome Liberdade



O Sarau acontece toda primeira quinta-feira do mês a partir das 20h.
(foto: QP)
Sob os olhos de Alceu Valença, Jim Morrison e Janis Joplin, o sarau Sobrenome Liberdade abre os braços no Relicário Rock Bar, no Grajaú, extremo sul da cidade de São Paulo.

O sarau foi criado em setembro de 2012 e começou num lugar bem menor que um bar, uma folha de papel. “O Sobrenome Liberdade nasceu primeiramente como um fanzine distribuído em eventos culturais, depois se tornou em um sarau. Vimos que a palavra não dá conta de registrar tudo no papel”, conta Ni Brisant, baiano, poeta e idealizador do movimento.
Em sua 11º edição, o sarau reúne pessoas de todos os cantos da cidade, com o mesmo objetivo, ouvir, recitar e talvez até mais, ser poesia. Para isso não precisa estar dentro do bar, dois janelões estratégicos permitem que as pessoas da calçada, sentadas ou de pé, participem do sarau.

Do lado de dentro, o microfone é como um rio de palavras que corre enquanto o sarau acontece. Palavras de amor, de ordem e crítica social. No palco, um garoto de jeans rasgado e black power se movimenta rapidamente e grita: “Fogo no sistema!”, muitos repetem junto. Aqui, provavelmente, ele não será um incendiário solitário.
Por ser “Sobrenome Liberdade”, o sarau traz ao palco não apenas a poesia, no banner pendurado dentro do bar, podemos ler: “Traga sua arte”. Foram o que fizeram três garotos que levaram para dentro do sarau, esquetes que abordam temas do cotidiano. Na encenação, eles falam, andam, choram e gritam no meio do público, até os mais falantes descansam a conversa e prestam atenção.

O estudante de jornalismo, Laio Rocha, 19 anos, depois de ter ouvido falar do sarau por meio de amigos e também pelo Facebook, resolveu conhecer pessoalmente. “Ele é um pouco diferente dos outros. Essa introdução das artes cênicas no sarau, a interação dos poetas com o público é muito interessante. Foi o que mais gostei”, explica.

Para muitos a distância pode ser empecilho para sair de casa numa noite fria de quinta-feira, mas não para Laudecir Silva, 40 anos. Morador do Centro da cidade, sempre que consegue uma folga na escola, não titubeia em se reunir com os amigos para ouvir e declamar poesia.
“Há pessoas que todos os dias, ou uma vez por semana, vão à igreja, eu vou ao sarau. Ele tem essa dimensão religiosa, espiritual. É mais que um evento, um ato cultural, é alimento para a alma”, confessa o professor de filosofia.
Em menos de um ano de existência, o Sarau Sobrenome Liberdade se concretizou como um espaço de expressão do cidadão comum. Onde crianças leem poesias, onde esquecer o poema no palco não é problema, onde as pessoas se abraçam sem receio.

“Não dependemos de nenhuma empresa, nenhum patrocínio, não mercantilizamos a arte. Tudo que temos fomos nós que construímos. Somos nós por nós mesmos”, conclui Ni
Brisant.
Para mais informações, acesse a página do Sobrenome Liberdade no Facebook.

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