Marcos Bagno é doutor pela USP e tem mais de trinta títulos lançados. (Foto: Rascunho - Gazeta do Povo) |
Marcos Bagno no livro “Preconceito Linguístico – O que é,
como se faz”, nos traz uma reflexão sobre como enxergamos a nossa língua e como
nos relacionamos com ela. Sobretudo, nos dá uma dimensão da importância de uma
educação linguística voltada à inclusão social e a valorização da diversidade
cultural entranhada em tantos portugueses
falados pelo Brasil afora.
Logo de início, na introdução do livro, ele nos adverte:
“Temos de fazer uma grande esforço para não incorrer no
erro milenar dos gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa
morta, sem levar em consideração as pessoas vivas
que a falam.”
Assim que li isso me lembrei de uma amiga que mora em
Parelheiros, bairro do extremo sul de São Paulo, que me disse uma coisa que
também vejo onde vivo, no Capão Redondo (extremo sul também), “Onde moro nunca
ouvi uma pessoa falar: “os policiais”, só “os polícia””. Eu também nunca vi, e acredito que não seja mera coincidência. Grosso modo, é uma adaptação “malandra” da língua de um povo, de determinada região, que, por motivos muitos, não vê os homens da segurança pública com todo esse garbo e elegância, como sendo merecedores do plural: “Vejam lá, colegas e vizinhos, Os Policiais estão chegando”. É mais comum, “Os polícia tão chegano, mano”, quando dá tempo de dizer isso tudo...
Estamos falando de regiões urbanas, mas nas cidades do interior dos estados, o mesmo fenômeno acontece, com número igual ou maior de variações linguísticas.
Vale lembrar que este modo de falar não se restringe apenas
às classes mais baixas. Não foram poucas as vezes que vi pessoas com poder
aquisitivo e ensino superior dizerem: “Nóis
vamo de qualquer jeito”.
Dessa reflexão, pergunto: O que aprendemos primeiro, a
falar ou a escrever? Para o autor, diferente da história do ovo e da galinha, esse dilema é mais fácil de resolver: “Todo esse processo histórico de inversão dos fatos pode criar a ilusão de que primeiro alguém escreveu uma gramática e só depois é que as pessoas passaram a falar a língua”.
Por defender a legitimidade das variações linguísticas, foi
criticado, muitas dessas críticas se fundamentavam no argumento: “Se todo mundo
fala como quer, então vamos escrever de qualquer jeito. Pra quê gramática?”.
Sobre isso, Bagno aproveita o gancho e explica a
importância da divisão clara dos papéis da língua falada e escrita na sociedade
e no cotidiano.
“É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a
ortográfica oficial, mas não se pode fazer isso tentando criar uma língua
falada “artificial” e reprovando como “erradas” as pronúncias que são resultado
da história social e cultural das pessoas que falam a língua em cada canto do
Brasil”.
Em suma, só posso chegar à conclusão que falar pobrema não é um problema se você compreende
o significado. Como diz e reitera o linguista, “É infinitamente mais
útil e relevante aprender a usar a língua
e não aprender sobre a língua”.
Se quiser se aprofundar no assunto, neste link você pode baixar o livro em PDF.
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